Os Estados Unidos registraram no final da tarde desta quarta-feira (1º)
um novo ataque a tiros, desta vez em um hospital de Tulsa, no estado de
Oklahoma. A ação se deu em meio à retomada do debate sobre o controle
de armas no país, trazido à tona depois de outros dois massacres
recentes -em uma escola de ensino fundamental no Texas e em um
supermercado em Nova York.
De acordo com a polícia de Tulsa, ao menos quatro pessoas morreram na ação.
Outras ficaram feridas, mas em número ainda não especificado, e o atirador teria se matado após o ataque.
Ele não teve a identidade revelada, mas as autoridades afirmaram que era um homem negro que aparentava ter de 35 a 40 anos.
"É
uma cena catastrófica", descreveu um porta-voz das forças de segurança
da cidade, o capitão Richard Meulenberg. O ataque aconteceu no hospital
St. Francis, e a polícia informou em comunicado que agentes vasculharam
"andar por andar, sala por sala" do prédio para analisar o risco de
novas ameaças.
A Casa Branca afirmou que o presidente americano,
Joe Biden, foi informado do tiroteio e estava monitorando de perto a
situação. Ele entrou em contato com autoridades locais para oferecer
apoio.
A polícia de Tulsa foi chamada ao hospital às
16h52 (horário local; 18h52 em Brasília) e chegou ao centro médico três
minutos depois. Os agentes, então, ouviram tiros no segundo andar, onde
ficam consultórios médicos, e encontraram os corpos das vítimas e do
atirador às 17h01. Todas foram mortas no mesmo ambiente.
A
corporação destacou a ação rápida, em especial após a polícia de Uvalde
ter sido alvo de críticas pela demora com que agiu no massacre na semana
passada.
O autor do ataque portava um rifle e uma pistola e teria
usado as duas armas durante a ação, mas não se sabe ainda de suas
motivações, se ele atirou de forma aleatória ou se tinha alvos
premeditados. Segundo a polícia, as vítimas devem incluir funcionários
do hospital e pacientes -suas identidades também não foram divulgadas.
Tulsa tem cerca de 410 mil habitantes e está a 160 quilômetros da
capital do estado, Oklahoma City. Mais cedo nesta quarta, Biden divulgou
um comunicado lembrando os 101 anos de um massacre no qual
supremacistas brancos atacaram um bairro predominantemente negro.
"Nós nos lembramos do inferno que foi desencadeado", escreveu Biden, que esteve em Tulsa há exatamente um ano.
Quando
questionado em entrevista coletiva sobre o fato de Tulsa engrossar a
lista de alvos de ataques a tiros nos EUA, o prefeito, o republicano
G.T. Bynum, preferiu apenas lamentar o episódio e se dizer solidário aos
familiares das vítimas. "Se queremos ter um debate político, isso é
algo a ser feito no futuro, não nesta noite."
O assunto foi
trazido à tona pelos repórteres porque a ação se deu em meio ao debate
sobre o controle de armas no país. Há oito dias, um massacre na escola
Robb, em Uvalde, no Texas, terminou com 19 crianças e 2 professoras
mortas. O autor, um jovem de 18 anos, portava um rifle AR-15 e, antes de
ser responsável pelo pior massacre em uma instituição de ensino
infantil no país em uma década, também disparou contra a avó.
Salvador
Ramos não tinha histórico de doença mental nem antecedentes criminais,
mas fez posts ameaçadores nas redes antes do tiroteio. Ele teve uma
adolescência marcada por bullying e problemas familiares e ao completar
18 anos celebrou postando uma foto com dois fuzis que comprou pouco
depois do aniversário. Ramos foi morto pela polícia na ação.
O
caso de Uvalde ocorreu dias depois de outro episódio, em Buffalo, no
estado de Nova York, no qual morreram dez pessoas num supermercado. O
autor teve motivações racistas e deve ser indiciado por terrorismo
doméstico.
Após o ataque em Uvalde, o presidente Joe Biden fez um
discurso emocionado no qual criticou o lobby pró-armas no país e
defendeu o controle no acesso a armamentos.
"Estou cansado disso",
disse. "Por que? Por que estamos dispostos a viver com essa
carnificina? Por que continuamos deixando isso acontecer? Quando, em
nome de Deus, vamos nos levantar e enfrentar o lobby das armas?"
No fim de semana, o democrata foi à cidade no Texas, na terceira
viagem que fez no cargo a um local de ataque a tiros em massa -no início
do mês, ele esteve em Buffalo. Biden e a primeira-dama, Jill, visitaram
um memorial para as vítimas e deixaram rosas brancas na placa da escola
Robb.
O casal também assistiu a uma missa e se encontrou com
parentes das vítimas, além de sobreviventes e socorristas. Ao sair da
igreja, uma multidão do lado de fora gritou "faça alguma coisa". "Nós
vamos", respondeu o democrata.
O debate sobre o acesso a armas
voltou a poucos meses das eleições legislativas, em novembro, com
ativistas defendendo leis que ampliem os controles para compradores de
armamentos. Políticos republicanos, como o senador pelo Texas Ted Cruz e
o ex-presidente Donald Trump, porém, rejeitam os pedidos de novas
medidas e, em vez disso, sugerem investir em saúde mental ou reforço da
segurança escolar.
Na última quinta (26), senadores da legenda
barraram o avanço das discussões de um projeto contra o terrorismo
doméstico, uma primeira tentativa de resposta dos democratas aos ataques
mais recentes no país.
Os parlamentares do partido de Biden já
contavam com o fracasso do projeto, mas insistiram na votação como forma
de marcar posição e enfatizar a oposição republicana a leis mais duras
sobre acesso e porte de armas. O texto permitiria a criação de unidades
específicas no FBI e nos departamentos de Justiça e Segurança Nacional
para o combate a esse crime, mirando principalmente supremacistas
brancos.
O jornal The New York Times fez
uma enquete com os 50 senadores republicanos para saber se eles estariam
abertos a apoiar projetos para endurecer as checagens de antecedentes
de interessados em comprar armas no país. Apenas quatro se disseram a
favor ou indecisos; 13 afirmaram se opor ou tender a esse
posicionamento; e outros 33 não responderam ou deram respostas não
conclusivas.
Por FolhaPress