Um grupo de homens armados invadiu um centro comercial em Krasnogorsk, um subúrbio de Moscou, nesta sexta-feira, deixando 40 mortos e pelo menos 100 feridos, de acordo com o Serviço Federal de Segurança da Rússia. Um grande incêndio consome parte do prédio, e cerca de 100 pessoas estão sendo resgatadas pelo terraço do complexo, através de escadas e helicópteros.
“De acordo com dados preliminares, um grupo de desconhecidos de duas a cinco pessoas em uniformes táticos, armados com armas automáticas, abriu fogo contra os guardas na entrada da sala de concertos. Depois começaram a atirar nos espectadores no foyer”, afirmaram autoridades locais à agência Interfax.
Os bombeiros foram impedidos inicialmente de atuar no combate às chamas, por questões de segurança, e precisaram aguardar a chegada das forças especiais da polícia. Segundo testemunhas, eles não conseguem apagar os focos das chamas por causa das altas temperaturas e da dificuldade de acesso ao interior do prédio, que está “completamente” envolvido pelas chamas.
Os disparos começaram pouco antes do show da band Piknik, dentro de um teatro localizado no centro comercial e na recepção, onde ainda havia muitas pessoas esperando pelo início da apresentação. Segundo a agência Mash, o incêndio foi causado pelos atiradores, que atearam fogo às cadeiras, e as chamas rapidamente se espalharam pela sala de espetáculos e pelo prédio. Cerca de 100 pessoas ficaram presas em uma área bloqueada pelas chamas, e estão sendo resgatadas pelo terraço. Foram ouvidas ao menos duas grandes explosões, mas não se sabe se foram provocadas por explosivos ou por equipamentos do centro comercial, como cilindros de gás.
Segundo uma testemunha ouvida pela Mash, o ataque foi realizado por cinco homens, que “agiram como militantes treinados e preparados”, e que teriam matado as pessoas que estavam perto das portas do teatro. Imagens divulgadas em redes sociais mostram vários corpos no chão em um hall de de entrada do centro comercial, mas as autoridades não confirmaram sua autenticidade.
“Os terroristas estão armados com rifles de assalto AKM. Alguns tinham muita munição, e dois deles estavam usando mochilas, possivelmente com coquetéis molotov”, disse a testemunha.
O incêndio já consome uma área de até três mil metros quadrados, e parte do teto desabou. Não há informações se os supostos atiradores foram capturados, mas as autoridades afirmam que todas as forças disponíveis estão sendo deslocadas para o local. Nenhuma organização assumiu a autoria do ataque.
“As unidades SOBR [unidade de ação rápida] e OMON [unidade de ações especiais] de Moscou foram acionadas pelo comando de alarme, estão se dirigindo para o local”, disse um porta-voz dos serviços de segurança à Tass.
No Telegram, o governador da região de Moscou, Andrei Vorobyov, disse que foi criada uma base operacional próxima ao centro comercial, e todos os eventos públicos na cidade de Moscou, que é uma região administrativa diferente, foram cancelados. Em São Petersburgo, segunda maior cidade da Rússia, um concerto foi interrompido às pressas e as pessoas retiradas, algo que também aconteceu em alguns dos maiores centros comerciais locais. Em outras regiões, medidas semelhantes foram adotadas, incluindo o aumento de segurança nas ruas e o cancelamento de eventos públicos.
Também no Telegram, a porta-voz da chancelaria, Maria Zakharova, disse que foi um “sangrento ataque terrorista”.
“O Ministério das Relações Exteriores da Rússia está recebendo ligações de todo o mundo, de cidadãos comuns expressando condolências em relação à terrível tragédia na Prefeitura de Crocus e palavras de forte condenação a este sangrento ataque terrorista que ocorre diante dos olhos de toda a humanidade”, escreveu Zakharova. O presidente Vladimir Putin ainda não se pronunciou.
O vice-porta-voz do secretário-geral da ONU, Farhan Haq, disse que “estamos tristes com esta notícia. Estamos tentando obter mais informações sobre o que aconteceu”, em comunicado.
Em entrevista coletiva, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, afirmou que “não há nenhuma indicação neste momento de que a Ucrânia ou os ucranianos estejam envolvidos num ataque armado”, citado pela Tass — Mykhailo Podolyak, chefe do Gabinete do Presidente da Ucrânia, também negou qualquer envolvimento do país no atentado. Zakharova imediatamente respondeu, questionando se os americanos têm elementos para “inocentar” alguém.
“Com base em que as autoridades em Washington tiram quaisquer conclusões sobre a inocência de alguém no meio de uma tragédia? Se os Estados Unidos têm ou tiveram informações confiáveis a esse respeito, elas devem ser imediatamente transferidas para o lado russo. E se não existirem tais dados, a Casa Branca não tem o direito de conceder indulgências a ninguém”, escreveu Zakharova no Telegram, afirmando que “todos os envolvidos, conforme afirmou a liderança russa, serão identificados pelas autoridades competentes”.
O ex-presidente e vice-chefe do Conselho de Segurança, Dmitry Medvedev, prometeu encointrar e destruir” os responsáveis pelo ataque, sugerindo que teriam sido obra da Ucrânia.
“Se for estabelecido que estes são terroristas do regime de Kiev, é impossível lidar de forma diferente com eles e com os seus inspiradores ideológicos. Todos eles devem ser encontrados e destruídos impiedosamente como terroristas. Incluindo funcionários do Estado que cometeram tal atrocidade”, disse, no Telegram.
No começo do mês, a embaixada dos EUA em Moscou emitiu um alerta para o risco de um “ataque de extremistas” na capital russa, orientando os cidadãos americanos a evitarem grandes aglomerações. O alarme veio no mesmo dia em que autoridades anunciaram a morte de supostos integrantes do grupo terrorista Estado Islâmico em uma região a cerca de 200 km da cidade.
Na ocasião, o FSB informou que os suspeitos mortos integravam uma célula do chamado Estado Islâmico do Khorasan, ou ISIS-K, baseado no Afeganistão e que tem presença nas ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central. No começo do mês, seis pessoas suspeitas de integrar a organização foram mortas na Inguchética, na região do Cáucaso.
O Globo