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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Carlos Drummond de Andrade ganha seu dia

Hoje, data do aniversário do poeta, tornou-se o Dia D, em que seus versos ganham vida na voz popular

O poeta Carlos Drummond de Andrade - Reprodução
Reprodução
O poeta Carlos Drummond de Andrade
 
Para o Instituto Moreira Salles, não existe nenhuma pedra no caminho. Afinal, hoje, dia do aniversário de Carlos Drummond de Andrade (nasceu em 1902), foi transformado pela entidade que cuida do precioso acervo do poeta no Dia D - Dia Drummond, que passa a figurar no calendário cultural do País. "Não queríamos que um material tão rico ficasse limitado aos muros do instituto", conta Flávio Moura, um dos curadores da festa, ao lado do poeta Eucanaã Ferraz. "Nossa inspiração foi o Bloomsday, que acontece todo 16 de junho, quando os irlandeses (e todo o mundo) comemoram a vida e a obra de James Joyce."

O ponto de partida foi envolver o maior número possível de admiradores do poeta, tanto famosos como desconhecidos. Assim, foi elaborada uma programação diversificada, que se espalha por diversas capitais brasileiras (veja abaixo a programação de São Paulo). Um dos destaques será a exibição do filme Consideração do Poema, produzido pelo IMS justamente para a data, no qual nomes importantes da cultura brasileira leem poemas de Drummond, entre eles Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Hatoum, Fernanda Torres, Adriana Calcanhotto, Cacá Diegues, Antonio Cícero, Paulo Henriques Brito e Marília Pêra.

Procure acompanhar a leitura do poema Elegia a Um Tucano Morto, o último escrito por Drummond e dedicado a seu neto, Pedro Augusto, que vai ler os versos.

Com o evento, os curadores pretendem incentivar fãs anônimos a também lerem suas poesias preferidas: todos podem enviar por e-mail para o site oficial (www.diadrummond.com.br) seus próprios vídeos com leituras de poemas. O material vai inspirar um novo filme. Vale tanto famosos como Poema de Sete Faces (Quando nasci, um anjo torto / desses que vivem na sombra /falou: Vai, Carlos, ser gauche na vida) como o emblemático No Meio do Caminho (No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho / tinha uma pedra / no meio do caminho tinha uma pedra), que Mario de Andrade considerou formidável mas fruto de um cansaço intelectual. 

Um terceiro vídeo também produzido pelo IMS estará disponível no site: No Meio do Caminho (2010) conta com 11 versões em língua estrangeira do poema mais conhecido de Drummond declamadas por personalidades diversas, como David Arrigucci Jr., Matthew Shirts, Jean-Claude Bernardet e Heloisa Jahn.

E, para que a iniciativa ganhe as ruas, inúmeros adesivos foram espalhados por livrarias e centros culturais, promovendo o Dia D. Também o Portal Estadão participa do evento, com a reprodução de uma leitura feita pelo ator Paulo Autran, além de disponibilizar diversas crônicas publicadas no Jornal da Tarde, entre 1981 e 1985.

Tantos festejos surpreenderiam o próprio homenageado. Meses antes de morrer, em 1987, o poeta estava seguro que, dali a dez anos, ninguém mais se importaria com sua obra. O excesso de modéstia certamente cegou o escritor, que deixou seus papéis cuidadosamente arquivados e catalogados, como se tivesse clareza quanto à importância de documentos ligados à vida literária na constituição - ou reconstituição - da história de uma carreira.

"Entre o material guardado pelo IMS, encontram-se preciosidades como uma pasta catalogada pelo poeta como Receitas", conta Samuel Titan, coordenador executivo do instituto. "Ali, Drummond colocou em ordem alfabética recortes de assuntos culinários, mas é possível notar que ele não entendia tanto de gastronomia, pois, na letra A, constam verbetes muito genéricos, como Aves."

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