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sexta-feira, 13 de maio de 2022

Cientistas da UFRN usam inteligência artificial para melhorar processo na construção civil

 

 

Uma nova tecnologia com potencial de eficiência para melhorar o processo de concretagem na construção civil acaba de ser desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Baseada em uma Inteligência Artificial (IA), o protótipo da invenção apresentou um grau de proximidade de 99% entre o valor obtido experimentalmente e o valor real da medição do grau de fluidez do concreto. Esse valor é significativo quando considerado que o controle convencional do procedimento é feito de forma visual.

É o que destaca Raphael José Rodrigues Torres, um dos cientistas responsáveis pelo estudo que resultou no depósito de pedido de patente do produto. Ele explica que os caminhões betoneira, que levam o concreto para as obras, precisam misturar os materiais, incluindo a água, em um processo chamado redosagem. Em seguida, o motorista do caminhão precisa olhar o concreto e ver se ele está no grau de fluidez correto, denominado slump. “Esse processo é visual, quase um achismo, baseado em grande parte na experiência do motorista. O que patenteamos foi uma Inteligência Artificial capaz de fazer esse processo de forma automática, reduzindo erros e custos de produção”, realça.

Segundo o doutorando, esses benefícios são alcançados reduzindo o tempo de redosagem, bastando o motorista apontar uma câmera para o fundo do balão da betoneira e a tecnologia identifica quase que instantaneamente o slump do concreto. A única variável analisada será o desenho formado pelo concreto durante a redosagem, quando o caminhão está em alta rotação, e com o balão girando. As ondulações formadas no material diferem por faixa de grau de fluidez, independente do volume da betoneira, ou padrão do traço, o que torna o processo de aferição e análise mais prático e assertivo. O sistema coleta as imagens necessárias para o reconhecimento dos padrões e indica, com exatidão, o slump encontrado no momento da redosagem, proporcionando maior segurança na colocação da água. Caso ele identifique o cumprimento para o que foi estabelecido pela obra, finaliza-se o processo; caso contrário, realiza-se a adição da água, e nova leitura após a correção.

“Mantemos a lógica do processo de redosagem, onde o motorista já avalia as ondulações formadas, porém, altera-se o processo de análise, que hoje é pautada no ser humano, pela análise computacional, que servirá de suporte para a tomada de decisão, e que acarretará uma grande redução na margem de erro no processo. A saída dos dados poderá ser acompanhada pelo balanceiro da unidade, através das informações disponibilizadas no software”, reforça.

Raphael Torres pontua que a problemática da incorporação da água na redosagem é um fator de grande preocupação para as centrais dosadoras de concreto, já que quase todo o processo de pesagem, atualmente já automatizado, fica em xeque ao repassar a responsabilidade pela colocação da folga d´água, a redosagem em si, ao operador de betoneira, que precisa executar tal etapa em tempo hábil e com a devida atenção, para evitar excessos.

“Com o maior controle do grau de fluidez é possível reduzir o tempo gasto na usina de concreto, liberando o caminhão para a obra mais rapidamente, consequentemente, reduz o consumo de diesel. Outro ponto importante, quando o caminhão chega na obra, é necessária a conferência do slump desse concreto. Caso esteja fora de conformidade, o concreto é devolvido e descartado pela concreteira, acarretando custos. Na pior das hipóteses, caso utilizem o concreto fora de conformidade, teremos um material com menor resistência, colocando em risco a estrutura da residência, ou mesmo de um prédio, demandando um reforço estrutural, que normalmente traz um prejuízo para a concreteira na cifra dos milhares, e às vezes milhão de reais. Geraremos uma economia real, melhorando a competitividade das concreteiras”, ratifica o estudante.

O estudo que gerou o pedido de patente “Sistema e processo de automatização do processo de redosagem” é fruto do seu mestrado no Programa de Ciência, Tecnologia e Inovação, da Escola de Ciência e Tecnologia da UFRN. Ao lado dele, também atuaram no desenvolvimento da invenção os docentes Aquiles Medeiros Filgueira Burlamaqui e Orivaldo Vieira de Santana Júnior. O primeiro identifica que o software usado utiliza machine learning, mais especificamente redes convolucionais. “A rede inclui camadas de detecção de recursos, com um pré-processamento da imagem mais enxuto, e redução para padrões mais simples, sem perder recursos que contribuam para a melhor previsibilidade de estruturas complexas, acarretando a leitura do grau de fluidez com maior precisão, em um fluxo de trabalho que observamos ser bem aceito pela concreteira, de fácil utilização e com resultados fidedignos”, pontua o professor da Escola de Ciência e Tecnologia (ECT).

As redes convolucionais simulam as práticas de identificação visual atual, sendo mais vantajosa que outras metodologias por não demandar instalação de sensores no caminhão betoneira e ter menos variáveis envolvidas, o que acarretará maior assertividade no processo de predição. “O software pode ser instalado em multiplataformas, como aparelho celular, tablet ou câmera acoplada ao redosador”, acrescenta Burlamaqui. 

Foto: Cícero Oliveira

Ao mercado

Atualmente vinculado ao Departamento de Bioinformática, no doutorado, Raphael Torres ressalta que o passo seguinte é a busca de parceiros que queiram desenvolver o produto. Ele conta inclusive que já há um plano de comercialização e de ganhos recorrentes elaborado. “Quando estudante, atuei na área de construção civil, como líder de concreteira, e essa era uma ‘dor’ que identifiquei em todas as lideranças do Brasil. A partir da identificação do problema, amadureci a linha de negócio, fiz a validação da tecnologia e segui para apresentação comercial, indo aos estados de São Paulo e Minas Gerais para conversar com as maiores empresas da área do país, para saber se era algo viável e comercializável. As respostas foram sempre positivas, o que nos animou. O que é necessário no momento é um sócio desenvolvedor, ou de um comprador da ideia, para que possamos sair do protótipo diretamente para o mercado”, destaca.

O pedido de patente dessa ferramenta passa a integrar o portfólio da vitrine tecnológica da UFRN, invenções que podem ser acessadas através do endereço www.agir.ufrn.br. A patente em si é um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgado pelo Estado aos inventores, autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação. Assim, o depósito de pedido de patente é o primeiro passo para garantir direitos de comercialização exclusiva, por um determinado período, de uma nova invenção com aplicação industrial.

A proteção das tecnologias desenvolvidas por inventores da UFRN tem como objetivo resguardar os direitos patrimoniais da instituição frente aos investimentos intelectuais e financeiros despendidos durante o seu desenvolvimento, mas também permitir que estes novos produtos e processos sejam licenciados por empresas que possam explorá-los comercialmente, gerando recursos para a instituição na forma de royalties que novamente serão investidos em inovação.

 

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