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terça-feira, 24 de maio de 2022

Guerra na Ucrânia aprofunda quadro de fome global

 

   © WFP/Sitraka Niaina Raharinaiv - Maioria das 140 milhões de pessoas que sofrem de fome aguda em todo o mundo está concentrada em 10 países

“Quando há guerra, as pessoas passam fome”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, ao Conselho de Segurança durante uma sessão sobre conflito e segurança alimentar, na quinta-feira.

No debate presidido pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, o chefe da ONU destacou que cerca de 60% das pessoas desnutridas do mundo vivem em áreas afetadas por conflitos. E segundo ele, “nenhum país está imune”.

Mais de 16 milhões de pessoas, ou metade da população do Iêmen, passam fome aguda
© PMA/Annabel Symington
Mais de 16 milhões de pessoas, ou metade da população do Iêmen, passam fome aguda

Conflito significa fome

Guterres disse que, no último ano, a maioria das 140 milhões de pessoas que sofrem de fome aguda em todo o mundo estava concentrada em 10 países: Afeganistão, República Democrática do Congo, Etiópia, Haiti, Nigéria, Paquistão, Sudão do Sul, Sudão, Síria e Iêmen.

O líder das Nações Unidas afirmou que quando o Conselho de Segurança debate conflitos, também debate a fome, explicando que todas as decisões tomadas sobre a manutenção da paz e missões políticas, têm impacto direto na segurança alimentar mundial.

Ele afirmou que o Fundo Central de Resposta a Emergências está enviando US$ 30 milhões para atender às necessidades de segurança alimentar em países como Níger, Mali, Chade e Burkina Fasso, o que chamou de “uma gota no oceano” frente às necessidades.

África

O chefe da ONU expressou preocupação com a insegurança alimentar no Chifre da África, que está sofrendo sua maior seca em quatro décadas.

De acordo com Guterres, a falta de chuvas já afeta mais de 18 milhões de pessoas, enquanto conflitos contínuos e insegurança fazem parte constante da realidade dos povos da Etiópia e da Somália.

Ainda de acordo com as informações do secretário-geral da ONU, globalmente, 44 milhões de pessoas em 38 países estão em níveis de emergência, conhecidos como IPC 4 ou a um passo da fome.

Mais de meio milhão de pessoas na Etiópia, Sudão do Sul, Iêmen e Madagascar já estão no nível 5 do IPC: condições catastróficas ou de fome.

Impactos da guerra na Ucrânia

Para Guterres, a guerra na Ucrânia está adicionando uma “nova dimensão assustadora ao quadro de fome global”.

Ele explicou que a invasão da Rússia significou uma enorme queda nas exportações de alimentos e provocou aumentos de preços de até 30% para alimentos básicos, ameaçando pessoas em países da África e do Oriente Médio.

O secretário-geral da ONU destacou quatro ações que os países podem adotar para quebrar “a dinâmica mortal do conflito e da fome”, começando com o investimento em soluções políticas para acabar com os conflitos, prevenir novos e construir uma paz sustentável.

Segundo o chefe das Nações Unidas, “o mais importante de tudo é acabar com a guerra na Ucrânia”. Ele fez um apelo ao Conselho de Segurança para que faça tudo ao seu alcance “para silenciar as armas e promover a paz, na Ucrânia e em todos os lugares”.

Acesso humanitário

Guterres também destacou a importância de proteger o acesso humanitário e bens e suprimentos essenciais para civis, chamando a atenção para o “papel crítico dos membros na exigência de adesão ao direito internacional humanitário e na responsabilização quando ele é violado”.

Ele ainda disse que é preciso haver “coordenação e liderança muito maiores” para mitigar os riscos interconectados de insegurança alimentar, energia e financiamento, enquanto lembra que “qualquer solução significativa para a insegurança alimentar global requer a reintegração da produção agrícola da Ucrânia e da produção de alimentos e fertilizantes”. da Rússia e da Belarus nos mercados mundiais – apesar da guerra”.

Finalmente, é “mais necessário do que nunca” que os doadores financiem os apelos humanitários. Guterres afirmou que priorizar outras áreas “não é uma opção enquanto o mundo está à beira da fome em massa”

Para ele, num mundo de fartura, ninguém deve aceitar que “uma única criança, mulher ou homem” morra de fome.

David Beasley,Chefe do Programa Mundial de Alimentos visita Sanaa, no Iémen, onde se regista atualmente a maior crise de fome do mundo.
PMA/Marco Frattini
David Beasley,Chefe do Programa Mundial de Alimentos visita Sanaa, no Iémen, onde se regista atualmente a maior crise de fome do mundo.

Pico de fome aguda global

Também esteve na sessão o chefe do Programa Mundial de Alimentos, PMA, David Beasley, e o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, Qu Dongyu.

Beasley chamou a combinação de conflitos, mudança climática e pandemia de “tempestade perfeita”, impulsionando a fome no mundo. Para o chefe do PMA, a segurança alimentar é fundamental para a paz e a estabilidade global.

Assim, ele fez um apelo aos membros do Conselho de Segurança a agirem “com urgência, hoje”.

O diretor-geral da FAO também afirmou que com menos segurança alimentar, a desigualdade se torna maior. Ele alertou para um “pico de fome aguda global”, com a possibilidade de um agravamento da situação no contexto atual.

Sobre a guerra na Ucrânia, ele reforçou que o conflito está impactando o mundo com preços “historicamente altos” de alimentos e energia, colocando a colheita global em risco.

Para Qu Dongyu, é imprescindível proteger as pessoas, o sistema agroalimentar e a economia contra futuros choques. Ele acredita que ninguém precisa passar fome “se todos fizermos nossa parte”, descrevendo o investimento em sistemas agroalimentares como “mais relevante do que nunca”.

Ao pedir união, o líder da FAO afirmou que “as pessoas dependem da comida para sobreviver”, e por isso todos precisam trabalhar de forma coesa para atender milhões de pessoas em todo o mundo.

 

 

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