O velório está previsto para acontecer no Museu Histórico e Artístico do Maranhão, mas ainda não foi divulgado quando ocorrerá. Já o enterro está previsto para a próxima segunda-feira, às 10h.
Nascido João Clemente Jorge Trinta, em 1933, o carnavalesco, artista plástico, cenógrafo e bailarino chegou a capital carioca em 1951, aos 18 anos --antes disso trabalhava como escriturário. Cinco anos depois, passou a integrar o Balé do Teatro Municipal do Rio. Amigo do poeta Ferreira Gullar, chegou a dividir um apartamento no Catete com o conterrâneo.
Em 1963 ingressou na Acadêmicos do Salgueiro e ajudou o carnavalesco Arlindo Rodrigues com o enredo "Xica da Silva" (samba-enredo de Anescarzinho do Salgueiro e Noel Rosa de Oliveira). A escola foi campeã.
Danilo Verpa/Folhapress | |||
Carnavalesco Joãosinho Trinta morre aos 78 anos; foto mostra ele em visita aos preparativos do carnaval de SP |
Criador dos grandes carros alegóricos, só foi "assinar" um desfile como carnavalesco em 1974, também para o Salgueiro.
Membro da equipe de Fernando Pamplona, Trinta ajudou a transformar os desfiles no que são hoje. Perderam espaço os passistas que desfilavam livres no chão, sem carros alegóricos ou fantasias mirabolantes, ao som de sambas sincopados, para dar espaço a espécie de "ópera popular", em que as alas desfilam em blocos seguindo coreografias moldadas à risca para contar o enredo da escola.
Repleta de sucessos, a carreira de Trinta como carnavalesco foi polêmica.
Em 1989, a Beija Flor de Nilópolis, então sob o comando do carnavalesco, foi impedida de levar para o Sambódromo a imagem de um Cristo mendigo dentro do enredo "Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia".
Para burlar a proibição e ao mesmo tempo criticar a Igreja, que havia recorrido à Justiça para vetar o uso da imagem, Joãosinho envolveu a estátua em plástico preto, com uma faixa onde se lia "Mesmo proibido, olhai por nós". A escola ficou em segundo lugar --a campeã foi a Imperatriz Leopoldinense-- mas o carnavalesco fez um desfile histórico, lembrado até hoje como um dos mais emocionantes da passarela do samba.
Foram 17 anos na Beija-Flor de Nilópolis, mas no início dos anos 2000 Joãosinho transferiu-se para a Grande Rio.
Em 2004, a escola de samba o demitiu horas antes da apuração oficial, alegando insatisfação com a concepção do enredo "Vamos Vestir a Camisinha, Meu Amor...". Segundo a Grande Rio, a ideia da escola era realizar um desfile para a conscientização do uso da camisinha e do perigo das doenças sexualmente transmissíveis.
No entanto, a concepção do carnavalesco era mais sexualizada, com carros alegóricos que reproduziam imagens do "Kama Sutra" (manual indiano de posições sexuais). Dois carros com cenas de sexo foram encobertos, por recomendação da Promotoria de Infância e Juventude de Duque de Caxias (região metropolitana do Rio). A escola classificou-se em 10º lugar.
Joãosinho se afastou do carnaval em 2006, depois de ter sofrido dois AVCs (acidente vascular cerebral) e continuado a trabalhar --o primeiro foi em 1997 e o segundo, em 2004.
De tão associado à festa virou tema de documentário, livro e, claro, samba enredo. No filme "A raça síntese de Joãosinho Trinta", lançado em 2009, os autores investigam o processo de criação de um enredo para uma das muitas escolas de samba em que ele trabalhou.
No Rio, atuou na Beija Flor, Viradouro, Rocinha, Grande Rio e Vila Isabel, onde coordenou seu último carnaval.