A disputa presidencial para 2014 serviu como pano de fundo para o realinhamento das forças políticas nacionais em um patamar mais à esquerda, com o crescimento da legenda socialista na disputa pelas cadeiras parlamentares municipais e as prefeituras das principais cidades brasileiras. Esta nova dimensão eleitoral constava no cardápio do jantar confirmado para a noite desta segunda-feira, entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, um dos principais líderes socialistas, e a presidenta Dilma Rousseff. O encontro foi marcado após o líder pernambucano declarar, durante rompimento da aliança com os petistas em Recife, na noite de sexta-feira, que “o PT dá mais trabalho ao governo Dilma do que o PSB”. O governador Cid Gomes (PSB-CE) também se fará presente ao encontro.
Campos, um dos nomes cotados para concorrer à Presidência da República em 2014, tem repetido que apoiará uma eventual campanha para a reeleição de Dilma, mas deixa claro que tem um projeto de poder para 2018. No encontro, os governadores e a presidenta tendem a avaliar melhor a ruptura entre o PSB e PT em capitais como Belo Horizonte e Fortaleza. Em Recife, a dissolução da aliança passou por momentos traumáticos, com a renúncia do deputado federal Maurício Rands (PE) ao seu mandato, poucos dias após ele deixar o PT, em represália à interferência da direção nacional do partido na definição do candidato petista em Recife.
A interlocutores ele afirmou que preferiu renunciar ao mandato a enfrentar um processo de cassação por infidelidade partidária. De acordo com a legislação, nessas condições, o mandato pertence ao partido, e não ao político. A formalização da renúncia foi feita em texto lido no plenário da Câmara dos Deputados. Antes, ao deixar o PT, Rands divulgara uma carta na qual criticava seu antigo partido.
“Concluí que esgotei por inteiro minha motivação e a razão para continuar lutando por uma renovação no PT. Na luta pela renovação do partido, no Recife e em outros lugares, têm prevalecido posições da direção nacional, adotadas autoritária e burocraticamente, distantes da realidade dos militantes na base partidária”, escreveu o deputado, que era filiado ao PT há mais de 20 anos.
“Renuncio ao mandato por acreditar que já cumpri com minha missão, apresentando, debatendo e aprovando matérias relevantes e, sobretudo, legislando sempre com o norte do interesse coletivo e do aperfeiçoamento democrático”, diz Rands, em trecho do documento. “Reitero a todos que saio da vida pública e da política partidária para exercer ainda mais plenamente a cidadania”, conclui a carta, com agradecimento a seus eleitores. O desligamento de Rands ocorreu depois que a direção nacional do partido interveio na cidade para anular prévia que poderia levar à escolha do atual prefeito, João da Costa.
O distanciamento entre o PSB, que mira no Palácio do Planalto para 2018, e o projeto petista de poder se evidencia cada vez mais na capital mineira, onde a troca de farpas no anúncio do rompimento de uma das mais sólidas parcerias entre as duas siglas mostrou um alinhamento de contorno ainda duvidoso quanto ao matiz ideológico, mas de objetivos claros em termos eleitorais. Campos (PE), na presidência nacional do PSB, comanda nos bastidores esta tentativa de se afastar dos petistas, com a redução à metade do número de capitais em que apoiará candidatos do PT a prefeito, em comparação com quatro anos atrás. Nesse período, o PSB engrossava campanhas petistas em dez capitais. Esse número foi reduzido a cinco e a legenda socialista lançará candidaturas próprias em 11 capitais, quatro a mais do que em 2008.
Junto com o PCdoB e outras legendas menores, o PSB tem servido como esteio ao arco das esquerdas no país, com o PT à frente. Com a eleição de Campos em Pernambuco, por uma margem ampla de votos, o partido ganhou estatura para buscar novos patamares eleitorais. Presentes no governo de outros cinco Estados, além da ampliação de sua representação no Congresso com a conquista de 34 vagas na Câmara dos Deputados e três no Senado, os socialistas passaram a estabelecer uma nova receita para a aliança petista e o caldo engrossou no Nordeste. Em Fortaleza, atritos entre a prefeita Luizianne Lins (PT) e o governador Cid Gomes (PSB) levaram as siglas a lançar candidatos concorrentes. Presidente nacional do PT, Rui Falcão disse que o PSB queria crescer no Nordeste “em cima” do PT e complicou ainda mais a tarefa dos negociadores. O resultado é que, este ano, o PSB lança candidaturas próprias em cinco das nove capitais nordestinas.
Oficialmente, o PSB admite que Campos e Cid Gomes tentam exercer a hegemonia política nos Estados em que governam. Como afirmou o vice-presidente da sigla, Roberto Amaral, a “aliança entre iguais compreende independência, que não rima com alinhamento automático”. O acordo entre as legendas ainda sobrevive em São Paulo, mesmo depois do abraço do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao deputado Paulo Maluf (PP-SP), em nome da campanha de Fernando Haddad. O ato representou a imediata renúncia da então candidata a vice na chapa, a deputada federal Heloisa Erundina. O apoio a Haddad, no entanto está restrito à direção nacional, pois o diretório estadual do PSB está alinhado aos tucanos, na campanha de José Serra. Não houve intervenção federal por conta disso.
Caminho de Minas
Na capital mineira, onde a seção estadual do PT oficializou o fim da aliança com o prefeito Marcio Lacerda (PSB), candidato à reeleição, e oficializou o ex-ministro Patrus Ananias como candidato à prefeitura, o motivo alegado foi a recusa do PSB local de dividir com o PT a coligação para as candidaturas a vereador. Mas o desenho nacional repete seu padrão nas Alterosas. Lacerda, com isso, ganhou o apoio do PDT, do PTB, do deputado federal Eros Biondini, e do DEM, do estadual Gustavo Corrêa. Ananias segue com aliados do PMDB, do PSD de Gilberto Kassab, prefeito paulistano e prócer da campanha de José Serra, e do PCdoB, adversário ferrenho nos demais Estados do país.
Em Minas, o PSB consolida sua aliança com o senador Aécio Neves (PSDB), amigo pessoal de Campos e Ciro Gomes, irmão do governador cearense. Desta forma, as forças políticas se polarizam entre os principais aliados do líder tucano mineiro e os pilares nacionais da base aliada que sustenta a presidente Dilma Rousseff (PT). Apesar de o grupo de Lacerda ter 14 siglas a mais, há uma situação de equilíbrio devido ao fato de o tempo de mídia ser proporcional às bancadas das legendas na Câmara dos Deputados. Por Correio do Brasil
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